Gail Devers, nascida a 19 de Novembro de 1966, em Seattle (EUA), foi uma das maiores atletas norte-americanas de sempre e uma das melhores velocistas mundiais de todos os tempos.
Gail Devers entrou para a história do atletismo e, em particular, dos Jogos Olímpicos, como a 2ª mulher, até hoje (a 1ª foi a atleta norte-americana, Wyomia Tyus, em 1964 e 1968), a conquistar 2 títulos olímpicos na prova de 100 metros, facto este ocorrido em duas edições consecutivas dos Jogos, em 1992 (Barcelona) e 1996 (Atlanta). Para além desta proeza já de si notável, Gail Devers é também a atleta que mais medalhas conquistou, até hoje, em grandes competições internacionais de atletismo, nada mais nada menos que 18 medalhas!
De facto, Gail Devers foi uma das mulheres mais rápidas de todos os tempos, quer nos 60 e 100 metros planos, quer nos 60 e 100 metros barreiras, sendo, de longe, a atleta que obteve mais vitórias e alcançou mais títulos naquelas quatro especialidades da velocidade.
Com efeito, Gail Devers era uma atleta bastante completa e versátil naquelas duas distâncias, com e sem barreiras, quer em pista ao ar livre, quer em pista coberta, revelando uma grande regularidade em termos de obtenção de excelentes marcas ao longo de mais de uma década ao mais alto nível. Para esta brilhante performance, muito contribuiu o intenso trabalho desenvolvido pela atleta orientado por Bob Kersee, o famoso treinador que também treinou a não menos famosa Florence Griffith-Joyner, tricampeã olímpica (100 metros, 200 metros e estafeta 4 x 100 metros) nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988.
Contudo, inicialmente, a carreira de Gail Devers, como atleta de alta competição, esteve seriamente ameaçada e o seu estado de saúde assumiu uma gravidade tal, ao ponto da atleta ter estado em risco de ver amputados parte dos seus membros inferiores, nomeadamente os pés, devido a um distúrbio raro da tiróide, conhecido como Doença de Graves.
Na verdade, no final de 1988, foi-lhe diagnosticada uma infecção grave na tiróide que lhe provocava, entre outros sintomas, tonturas constantes, extrema fadiga, perda de audição, de visão e de memória e diminuição brusca de peso. Numa fase mais complicada da doença, os seus pés chegaram a formar coágulos sanguíneos do tamanho de um limão, o que levou os médicos a ponderarem seriamente a hipótese de lhe amputarem os pés.
Graças a um tratamento e recuperação verdadeiramente espantosos e quase milagrosos, e fruto, igualmente, da sua extraordinária força de vontade, perseverança e elevado espírito de sacrifício, Gail Devers conseguiu vencer a doença e ultrapassar definitivamente este grave problema de saúde que chegou a pôr em risco a sua carreira desportiva e até a sua saúde como mulher.
Durante 2 anos (1989 e 1990), Gail Devers fez a sua "travessia do deserto" e ficou afastada das competições desportivas, submetendo-se, durante aquele período, a um intenso tratamento à base de radiações, medicação para a tiróide, dieta rigorosa e treinos específicos.
Depois de completamente recuperada e reabilitada para a prática desportiva e, em particular, para o atletismo de alta competição, Gail Devers teve um regresso notável às competições internacionais e, a partir de 1991, começou a acumular vitórias e títulos em grandes eventos mundiais, nomeadamente, em Campeonatos do Mundo de Atletismo (em pista ao ar livre e em pista coberta) e em Jogos Olímpicos, tendo, no conjunto de todas estas competições, conquistado um total de 18 (!) medalhas, das quais 13 de ouro e 5 de prata.
Vejamos, em pormenor, o seu fabuloso palmarés, enriquecido durante 13 anos, entre 1991 e 2004:
- 1991, Campeonatos do Mundo de Atletismo de Tóquio: uma medalha de prata (100 metros barreiras);
- 1992, Jogos Olímpicos de Barcelona: duas medalhas de ouro (100 metros planos e estafeta de 4 x 100 metros), tendo ficado apenas em 5º lugar na prova de 100 metros barreiras, devido ao facto de ter tropeçado no último obstáculo quando seguia na frente da corrida;
- 1993, Campeonatos do Mundo de Atletismo de Estugarda (Alemanha): duas medalhas de ouro (100 metros planos e 100 metros barreiras) e uma medalha de prata (estafeta de 4 x 100 metros);
- 1993, Campeonatos do Mundo de Atletismo (pista coberta) de Toronto (Canadá): uma medalha de ouro (60 metros planos);
- 1995, Campeonatos do Mundo de Atletismo de Gotemburgo (Suécia): uma medalha de ouro (100 metros barreiras);
- 1996, Jogos Olímpicos de Atlanta: duas medalhas de ouro (100 metros planos e estafeta de 4 x 100 metros), tendo voltado a falhar a conquista de uma medalha nos 100 metros barreiras, ficando, desta vez, em 4º lugar, muito perto do pódio;
- 1997, Campeonatos do Mundo de Atletismo de Atenas: uma medalha de ouro (estafeta de 4 x 100 metros);
- 1997, Campeonatos do Mundo de Atletismo (pista coberta) de Paris: uma medalha de ouro (60 metros planos);
- 1999, Campeonatos do Mundo de Atletismo de Sevilha: uma medalha de ouro (100 metros barreiras);
- 1999, Campeonatos do Mundo de Atletismo (pista coberta) de Maebashi (Japão): uma medalha de prata (60 metros planos);
- 2001, Campeonatos do Mundo de Atletismo de Edmonton (Canadá): uma medalha de prata (100 metros barreiras);
- 2003, Campeonatos do Mundo de Atletismo (pista coberta) de Birmingham (Inglaterra): uma medalha de ouro (60 metros barreiras);
- 2004, Campeonatos do Mundo de Atletismo (pista coberta) de Budapeste (Hungria): uma medalha de ouro (60 metros planos) e uma medalha de prata (60 metros barreiras).
Entre 1993 e 1996, Gail Devers venceu 16 finais consecutivas de 100 metros barreiras, na verdade a sua especialidade favorita, em relação à qual, porém, fica um certo sabor amargo e a frustração de não ter sido campeã olímpica. Na memória de todos quantos tiveram o privilégio e o prazer de assistir às exibições e às corridas de Gail Devers, ficará eternamente gravada a imagem de marca da atleta, isto é, as enormes unhas das mãos, que de tão compridas encurvavam, parecendo-se com as garras de uma fera!
O longo e extraordinário percurso desportivo e o fabuloso palmarés que Gail Devers construiu só se tornou possível devido ao seu espírito positivo e vencedor, nunca desistindo de lutar, nem perdendo a esperança, pois como ela própria afirmou um dia, "se alguém acredita que os sonhos se transformam realidade, esse alguém sou eu".
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